Entrevista com uma familia de carroceiros.
Muitos que ganham a vida como carroceiros são criticados por atrapalhar o transito e maltratar animais.
Alguns acham absurdo em pleno séc. XXI, com toda modernidade existente no mundo, todas as facilidades, ostentarmos um atraso como carroceiros, carroças e cavalos.
Mas ao entrevistar a família do Sr. Lázaro podemos olhar essa história de um ângulo bem diferente.
O Sr. Lázaro tem 75 anos e é casado há 51 anos. Vive em um lugar simples, sem luxo. Não sabe ler e nem escrever muito bem. Sua profissão: carroceiro.
Ele disse que herdou esse trabalho e essa cultura dos avós, e desde que se entende por gente lida com a carroça e com os cavalos. Seus filhos também até certa idade o ajudavam nessa profissão, porém eles preferiram seguir outros caminhos. Hoje apenas um o ajuda fazendo frete.
Além de 3 filhos que moram com ele dos 7 que ele teve, vivem com ele a esposa, uma neta e três bisnetos. E a coleta de papel ajuda e muito no sustento da família.
Antes mesmo de o sol nascer ele já está pronto para começar mais um dia de trabalho. Ele possui duas carroças, e dois cavalos, que segundo ele são bem tratados.
Segundo o Sr. Lázaro, ele possuí um registro na prefeitura de suas carroças.
Sua grande preocupação é em sustentar a família de uma maneira digna e honesta.
O Sr. Lázaro fazia fretes para lojas de matérias de construções, mudanças e coleta de entulhos também. Mas hoje, já com a idade mais avançada, dedicasse somente na coleta de papeis e materiais recicláveis.
Seus cavalos bebem água a cada 4 horas e os alojam em um terreno vizinho ao seu, onde cresce a grama (pasto) que ajuda na alimentação dos cavalos. Também compra ração para os cavalos, um luxo, que segundo o Sr. Lázaro é difícil de manter. Afinal não é muito o que ganha com a coleta de papel. Ainda escovar o cavalo sempre antes e depois do trabalho, pois isso evita acúmulo de sujeira e que em contato com os arreios provocam ferimentos. Esses são os cuidados que ele procura sempre ter com seu cavalo.
O transito é uns dos problemas que o Sr. Lázaro enfrenta, e todo carroceiro também, que como sempre, recebem reclamações dos motoristas.
Sr. Lázaro diz: “Quando tava verde a gente podia atravessar o nosso lado e se não tava verde temo que esperar pra cá da faixa branca, mas tem motorista que vai lá em frente pra lá da faixa branca que impede nois de virar pra frente, se a gente não se cuidar capais de bater, mas ainda bem que nossos cavalo são bão de redia como diz o ditado, vê que vem uma coisa, vê que não dá pra entrar, ai ainda segura, daí ele não vai pra frente”.
“É muito perigoso, tem motorista que até...sei lá....se fazem por gosto, ou bêbado, maconhado, não sei, sei lá, não respeitam, as vezes o cara vai passando ali, tem um, é a minha vez de passar ... zzzoooooommm .... passa o carro, o cara mata um hora dessas”.
A coleta de papel ajuda a família do Sr. Lázaro em aproximadamente R$ 200,00 por mês, e agradece por ter sua aposentadoria.
Mas para uma família numerosa como a que abriga uma das alternativas e acreditar em todos os santos possíveis. Dona Iolanda, 68 anos, esposa do Sr. Lázaro é católica e mantêm um altar dentro de casa, com vários santos. Entre eles, pude identificar Santa Clara, São Benedito, São Jorge, Nossa Senhora de Aparecida e Santo Expedito. “ Desse ano pra cá, Deus há de ajudar, as coisa vai melhorar”, diz Dona Iolanda com fé.
“O vô não pode comprar, o vô não pode , não tem dinheiro, vocês tem que me perdoar essa vez viu, agora pro ano que vem o vô pode comprar, e assim agente vai levando eles, e aquele dinheirinho daquele papel ali , quando já pego, já ta devendo”. Desabafa o carroceiro Sr. Lázaro.
Quando não é o sol quente e os problemas do dia a dia , o Sr. Lázaro se preocupa com a chuva. “Quando ela vem fica impossível catar papel na cidade”, reclama ele.
Quanto mais a chuva permanece menos papel aparece, mesmo debaixo de muita chuva, o Sr. Lázaro se arrisca e sai para catar papel, ficando mais perigoso o trafego pelas ruas. Mas mesmo debaixo de muita chuva conseguem coletar alguma coisa.
O Sr. Lázaro reclama também que antes a coleta de papel lhe rendia mais lucros, mas hoje as empresas que antes doavam todo o papel, agora estão vendendo o material diretamente para o atravessador. “Eu não sei o que aconteceu com o papel, tinha fabrica que eu tirava 3 mil kilos de papel por mês...”
Mesmo vivendo a cada centavo recolhido, esse carroceiro continua mantendo a esperança de que um dia as coisas possam melhorar. Quando o interroguei sobre um sonho, a resposta foi, “arrumar minha casinha, deixar bem arrumadinha pra quando eu falecer deixar pros filhos, o dia que der , quando eu puder, eu quero fazer isso pra minha família”.
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